quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Crescer sem drogas

Crescer sem drogas


Ela era linda! Tinha cabelo loiro cumprido, uma cara lindíssima, olhos azuis, e um sorriso magnífico quando cruzava com alguém. Devia ter os seus dezassete ou dezoito anos de idade.
A noite nascia, deixava o corpo abandonar-se ao som da música techno que enchia a discoteca situada perto do mar.
Olhei para ela fixando-a no meu olhar, já que o seu aspecto destacava – se de todas as pessoas que dançavam na pista.
O som inundava a discoteca, as pessoas dançavam de todas as formas, era o movimento de todos que compunha a grande pista da discoteca.
O bem-estar das pessoas era notável, já que não surgiam comentários do que os outros faziam dentro da pista, fazendo tudo o que lhes apetecesse, sem preocupações de dar nas vistas, ou de esconder modos de estar.
Atravessei a pista, e fui vê-la mais de perto...O seu olhar cruzou-se com o meu, e ela marcou-me interiormente.
Vi-a falar com uma colega dela, continuou a dançar, até que começa a enrolar um “charro”. Comentei com uma colega que me disse que já não era o primeiro naquela noite.
Logo após de ter fumado o “charro”, vi-a sair disparada pelo meio da pista….até que desapareceu do meu olhar. Fiquei preocupado com o seu estado, mas o que poderia eu fazer?!?
Reencontrei-a horas depois junto da porta da discoteca, e parecia longe do seu corpo, longe de tudo, vivendo um mundo imaginário, irreal, enquanto o seu corpo agitava-se intensamente.
Tornei a olhar para ela, até que me fui embora.
Ao sair da discoteca, virei-me para trás e tornei a vê-la uma vez mais, e estava ela sentada, num estado lastimável que a qualquer um afectaria.
As férias acabaram, e voltei à minha terra.
Cheguei à minha casa, e fiquei a pensar na noite anterior.
Que pode levar a uma jovem com tão bom aspecto a ficar tão sozinha e ter que consumir drogas? Para acabar a noite de uma forma tão só…tão pesada…tão cruel para qualquer ser humano.
Pensei também nos pais dos jovens de hoje. Confrontados com as notícias assustadoras da comunicação social que tantas vezes transmitem insegurança aos pais acerca das saídas à noite, inseguros no seu papel face aos mais novos, mal informados sobre os perigos do “flagelo da droga”, sem darem conta não da existência da droga, mas das variadíssimas drogas existentes, e de fácil acesso, que por vezes os pais não sabem o que fazer nem onde se dirigir. Alguns deles, lêem revistas e livros acerca da Juventude, mas não encontram as respostas que pretendem, já que se torna difícil alguém se encontrar bem, sendo retractado como exemplo escrito de outra pessoa, nem que o aumento da informação técnica para os pais, tenha-os tornado mais competentes no seus papeis como pais. Ninguém hoje pode afirmar com segurança total de que o seu filho não será consumidor de drogas leves, alcoól de uma forma exagerada...é difícil!
Todas teorias que afirmavam que tal facto resultava do mau entendimento dos pais, de experiências na relação precoce mãe – bebé ou de perfis específicos de personalidade têm caído por terra. É tão provável que o nosso filho se “cruze” com as drogas na sua juventude, que ninguém deve culpar os outros para tal sucedido.
Que devem os pais fazer?
Neste caso, não devem ficarem paralisados com tais situações, já que estes, podem ser importantes ao indicar o caminho mais certo que o seu filho deve seguir, pois há muita coisa a fazer.
Assim, devem inicialmente acreditar que o seu envolvimento e suporte afectivo, desde o nascimento até á morte, é essencial para os seus filhos.
Se se sentem capazes de lutar contra tudo na vida, devem “tocar-lhes” física e psicologicamente no seu processo de crescimento, sendo capazes de os encher de coisas boas e evitar que cresçam sozinhos.
De seguida, existe mais um objectivo: prevenir. É preciso proteger o indivíduo e a sociedade para lidar com a oferta de drogas, não esquecendo o alcoól, cujo o seu consumo tem vindo a aumentar de modo significativo nos jovens portugueses.
A prevenção começa na família, através de uma clara introdução da frustração e na educação do adiantamento do prazer. É necessário explicar aos filhos que não podem obter tudo o que desejam de uma forma tão precoce.
É indispensável que, desde a infância, ajudar o filho a compreender que têm de desejar as coisas antes de as obterem. É essencial transmitir-lhes mais coragem do que propriamente exercer o poder da crítica, e firmeza quando os filhos “fogem” dos valores do seus progenitores.
Após este passo, é necessário investigar. Pois, em Portugal muita gente fala da droga mas pouca gente a estuda.
Se o jovem abandona a escola antes do 9º ano, após sucessivas reprovações, se o seu comportamento é repetitivamente agressivo, e existe uma desconfiança por parte dos pais acerca do consumo de drogas, não está convicto das suas acções, existe um problema. Tal facto não indica que o jovem vá cometer uma tragédia, mas simplesmente que no seu percurso ele não está a desenvolver competências internas sociais que lhe permitam escolher um percurso livre da droga ou de sofrimento psicológico. Toda esta mensagem deve ser no sentido do prazer que a vida, apesar de difícil, pode proporcionar, sem necessitarmos de recorrer a químicos. A química interna reside essencialmente no amor e carinho que os pais são capazes de dar e receber do seu filho, pois é essa química onde devem desenvolver relações “pele a pele” com os com o seu filho.
Pouco a pouco eles aprenderão que a luta contra a frustração e a depressão é que tornam as pessoas fortes e felizes, e não o prazer imediato como algo que se acede com facilidade, mas que é efémero e com riscos.
Deixemos de tristezas, mas do amor e atenção que os pais são certamente capazes de dar aos seus filhos.




Nuno Pereira, in "Juventude de Hoje" (2002)